A hipertensão arterial, conhecida como pressão alta (acima de 140×90 mmHg), é uma das principais doenças crônicas não transmissíveis evitáveis, ou seja, que poderia ter sua incidência reduzida com a mudança de hábitos. De acordo com um relatório publicado pelo Ministério da Saúde em 2022, o número de adultos com diagnóstico médico de hipertensão aumentou 3,7% nos últimos 15 anos no Brasil. Se em 2006 afetava 22,6% dos brasileiros, com mais de 18 anos, hoje esse número atinge o índice de 26,3%. A análise mostra ainda um crescimento na prevalência da doença entre os homens.
Considerada o principal fator de risco para as doenças cardiovasculares, a hipertensão, quando não controlada, pode levar a complicações como insuficiência cardíaca, insuficiência renal e acidente vascular cerebral, além de afetar a vida sexual e reprodutiva do homem. Vamos entender como isso acontece?
A hipertensão está associada a maior risco de disfunção erétil
A pressão alta dificulta a vasodilatação, ou seja, as artérias vão ficando cada vez mais estreitas e contraídas. Ao afetar as artérias que irrigam o pênis, o fluxo de sangue é prejudicado e o homem poderá ter dificuldades para iniciar e manter a ereção. Lembre-se que a ereção é um fenômeno vascular, que depende da boa circulação sanguínea no pênis.
Medicamentos anti-hipertensivos
Alguns medicamentos prescritos, para controlar a hipertensão arterial, têm sido associados aos efeitos colaterais, como impotência (disfunção erétil), diminuição da libido e problemas de fertilidade.
A espironolactona tem ação antiandrogênica, o que inibe a produção de testosterona e interfere na qualidade do sêmen. Os diuréticos tiazídicos (como a clortalidona e a hidroclorotiazida), diminuem o fluxo de sangue para o pênis, podendo causar disfunção erétil. Betabloqueadores de primeira geração como o propranolol e bloqueadores de canais de cálcio, como a nifedipina, também podem impactar a função erétil, além de diminuir a libido. Ademais, alguns alfabloqueadores utilizados no tratamento de doenças da próstata e na hipertensão arterial, podem causar ejaculação retrógrada (redução ou ausência de esperma na ejaculação).
A relação entre hipertensão e infertilidade é tema de pesquisas
Um estudo da Universidade de Stanford, publicado pela revista Fertility and Sterility em 2014, evidenciou a relação entre a baixa qualidade do sêmen e doenças como a hipertensão. A pesquisa incluiu dados de mais de 9 mil homens entre 30 e 50 anos, com o objetivo de identificar fatores associados à infertilidade, no qual, os pesquisadores concluíram que: além das complicações decorrentes das próprias doenças, a qualidade dos espermatozoides poderia ser afetada pelos fármacos utilizados no tratamento.
Outro estudo recente (2020) realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) em parceria com o Centro de Pesquisa em Urologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) mostrou que a hipertensão pode prejudicar o sistema reprodutor masculino. Os testes in vitro foram realizados em animais e os pesquisadores concluíram que a doença é capaz de comprometer a microcirculação dos testículos e a qualidade dos espermatozoides. O estudo foi publicado pela revista Scientific Reports.
Os efeitos na fertilidade dependem do medicamento e da duração do uso. E muitas vezes, não é possível afirmar se tais efeitos, como a disfunção erétil, foram medicamentosos, ou causados pela própria doença. Por isso, atenção: jamais interrompa o uso de um medicamento sem a orientação do seu médico.
O tratamento da hipertensão deve levar em conta o nível de risco cardiovascular de cada pessoa. Ao notar qualquer dificuldade de ereção, consulte seu cardiologista para uma orientação correta. Lembre-se que uma vida sexual saudável está relacionada a outros fatores que diminuem o risco de doenças cardiovasculares: fazer exercícios físicos regularmente, limitar o consumo de álcool, não fumar e ter uma alimentação saudável.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS