DOENÇAS QUE AFETAM A FERTILIDADE FEMININA

Endometriose

Uma das causas mais comuns da infertilidade feminina, a endometriose é uma doença inflamatória crônica que atinge cerca de seis milhões de mulheres brasileiras e caracteriza-se pela presença de células do endométrio (tecido que reveste o interior do útero) fora da cavidade uterina, podendo atingir ovários, ligamentos do útero, peritônio, vagina, intestino, bexiga e uréter.

Além disso, o tecido endometrial pode crescer a ponto de invadir a camada muscular do útero, chamada miométrio, causando o que chamamos de adenomiose.

CAUSAS: são desconhecidas, porém, sabe-se que a origem da endometriose está relacionada a múltiplos fatores como genéticos, imunológicos, hormonais e estilo de vida.

PRINCIPAIS SINTOMAS

  • Cólicas menstruais intensas
  • Dor pélvica ou abdominal fora do período menstrual
  • Dor durante e após a relação sexual
  • Alterações intestinais ou urinárias durante o período menstrual
  • Infertilidade ou dificuldade para engravidar

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Os exames para diagnóstico da endometriose são a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética da pelve.

A endometriose pode ser superficial, ovariana ou profunda. O tratamento é individualizado, pensando sempre no desejo reprodutivo, idade da paciente e reserva ovariana. Pode ser medicamentoso (por meio de anticoncepcionais, uso de DIU hormonal ou antinflamatórios que melhoram os sintomas) ou cirúrgico, através de laparoscopia, com retirada dos focos nos locais em que a doença está presente.

Com diagnóstico e tratamento adequado, é possível ter boas chances de uma gravidez natural ou através de um tratamento de reprodução assistida, como a Fertilização In Vitro e Inseminação Artificial.

Adenomiose

Responsável por atingir de 20% a 35% das mulheres em idade reprodutiva, a adenomiose é caracterizada pela presença de tecido endometrial na camada muscular do útero, o miométrio. Essa doença tem impacto na fertilidade da mulher, podendo estar associada à falha de implantação embrionária, além de complicações gestacionais como aborto espontâneo e parto prematuro.

PRINCIPAIS SINTOMAS

Um terço das mulheres são assintomáticas. As demais costumam apresentar cólicas e fluxo menstrual intensos, inchaço no abdômen, dor durante as relações sexuais e infertilidade.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

O ultrassom transvaginal é a primeira opção para avaliação da doença, embora possa ser necessária ressonância nuclear magnética de pelve para confirmação diagnóstica.

A cirurgia para retirada do útero é o diagnóstico padrão-ouro, e também o tratamento definitivo, sendo a melhor maneira de remover os focos de adenomiose em mulheres que não desejam engravidar.

Para pacientes com desejo reprodutivo o tratamento com anticoncepcionais ou DIU hormonal é a melhor opção para reduzir o sangramento e controlar a doença, devendo ser suspenso imediatamente antes das tentativas de gravidez. Técnicas de reprodução assistida podem ser indicadas para otimizar as chances de gravidez.

Hidrossalpinge

É o acúmulo de líquido no interior de uma ou de ambas as tubas uterinas, devido a um processo inflamatório. Pode ser causada por bactérias como Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, que são sexualmente transmissíveis.

As tubas uterinas são responsáveis por promover o encontro entre o óvulo e o espermatozoide. O acúmulo de líquido no seu interior pode causar obstrução e impedir que a fecundação aconteça ou levar a gestação ectópica. Por isso, é muito comum que as portadoras desta alteração tenham a infertilidade como principal sintoma.

PRINCIPAIS SINTOMAS

  • Dor nas relações sexuais
  • Dor abdominal
  • Corrimento vaginal com cor e consistência alterados em casos de infecção ativa.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Pode ser detectada pelo ultrassom transvaginal, histerossalpingografia e ressonância magnética, ou mesmo durante uma cirurgia videolaparoscópica, que a paciente esteja realizando por outro motivo.

O tratamento varia de acordo com a gravidade da doença e com o perfil de cada paciente. Normalmente, recomenda-se o uso de medicações para infecção ou procedimento cirúrgico para retirada das tubas uterinas em que não é possível a desobstrução.

Os tratamentos de Reprodução Assistida podem ser indicados para pacientes com ovulação normal. Para a Fertilização in Vitro (FIV), muitas vezes se indica a retirada das tubas (salpingectomia) antes do procedimento do embrião para o útero.

Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP)

É uma das mais comuns disfunções endócrinas que atingem as mulheres em idade reprodutiva. A fertilidade feminina pode ser afetada devido a um desequilíbrio hormonal caracterizado por irregularidades menstruais, hiperandrogenismo (aumento da produção de andrógenos como testosterona), resistência à insulina e alteração na morfologia dos ovários com a presença de cistos, dificultando a gravidez.

PRINCIPAIS SINTOMAS

  • Irregularidade e/ou atraso da menstruação
  • Obesidade
  • Alopecia (queda e/ou falhas no cabelo)
  • Crescimento de pelos no rosto, abdômen e mamas
  • Oleosidade no cabelo e rosto
  • Acne
  • Dificuldade para engravidar

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

O diagnóstico da SOP pode ser feito por avaliação clínica e/ou laboratorial (exames de dosagem hormonal) e pelo ultrassom transvaginal. O histórico menstrual da paciente, considerando irregularidade menstrual (presente em cerca de 85% das pacientes) é um critério relevante para a confirmação diagnóstica.

O tratamento é individualizado. Muitas mulheres com esta condição têm um índice de massa corpórea maior, com chances de desenvolver resistência à insulina. Nesta situação, além de uma dieta equilibrada, redução do peso e prática de atividade física, recomenda-se o uso de medicações para reduzir a taxa de insulina e melhorar o ciclo menstrual.

A restauração dos ciclos ovulatórios pode ser feita com hormônios indutores da ovulação. Após isso, a gestação natural pode acontecer, mas sempre com acompanhamento médico.

Os tratamentos de Reprodução Assistida como, por exemplo, a Fertilização In Vitro (FIV), não são indicados para todas as mulheres com SOP. Muitas vezes, tratamentos de baixa complexidade como Relação Sexual Programada podem ser o suficiente para se atingir uma gestação. Para saber mais sobre esse tipo de tratamento, clique aqui.

Miomas

Cerca de 20% a 40% das mulheres em idade reprodutiva são diagnosticadas com miomas uterinos, que são tumores benignos muito comuns, originados da multiplicação de células do miométrio (parede do útero), sob influência de diferentes estímulos genéticos hereditários e fatores hormonais.

Dependendo da localização, os miomas uterinos podem causar infertilidade pois impactam a implantação embrionária. O mais frequente, chamado intramural (cerca de 70% dos casos), afeta a parte interna da parede do útero, fazendo com que o órgão aumente de tamanho e o fluxo menstrual seja mais intenso em alguns casos.

SINTOMAS

De modo geral, os miomas não causam sintomas e são normalmente diagnosticados em exames de rotina.
A maioria das mulheres não apresentam sintomas, mas os mais comuns são: menstruação irregular, dificuldade para engravidar, cólicas intensas, dores pélvicas, abdominais e dores durante a relação sexual.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

A ultrassonografia transvaginal é o principal exame que determina a localização e tamanho dos miomas. Outros exames podem ser solicitados: ressonância magnética, histerossalpingografia e histeroscopia diagnóstica. Dependendo dos sintomas, da localização e dimensão dos miomas, há dois tipos de tratamentos:

Hormonal: DIU hormonal; uso de medicamentos como pílula anticoncepcional ou análogo agonista de GnRH.

Cirúrgico: miomectomia, que é a retirada do mioma por histeroscopia cirúrgica, videolaparoscopia ou cirurgia aberta. Além disso, em alguns casos pode ser necessária a retirada completa do útero (histerectomia).

Tratamentos alternativos: a embolização das artérias uterinas e ressonância magnética de alta frequência são técnicas alternativas, mas não são recomendadas para pacientes que desejam engravidar, pois a segurança e efetividade para essas pacientes ainda não foram comprovadas.

Pólipos uterinos

Também conhecidos como pólipos endometriais, são tumores benignos que acontecem no endométrio (camada que reveste o útero internamente) de aproximadamente 25% da população feminina.

A origem dos pólipos ainda não é claramente definida e eles podem ser únicos ou múltiplos, podendo variar em tamanho: desde pouco milímetros a vários centímetros.

PRINCIPAIS SINTOMAS

O sangramento menstrual irregular é o mais frequente. Cerca de 30% das mulheres são assintomáticas.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

A histeroscopia é o exame “padrão-ouro” para diagnóstico. Outros exames são a ultrassonografia transvaginal (melhor quando realizada entre o 6º e o 12º dia do ciclo menstrual) e a histerossonografia.

Os pólipos endometriais em pacientes com sintomas (sangramento vaginal e/ou infertilidade) devem ser removidos, e a histeroscopia cirúrgica é o método mais indicado. Em pacientes sem sintomas e de baixo risco, o tratamento cirúrgico é discutível.

Malformações Uterinas

São anomalias congênitas geralmente de causas genéticas. As principais malformações uterinas são: útero didelfo, bicorno, unicorno e septado.

A grande maioria das anomalias não impede a concepção e a implantação embrionária, mas está relacionada com abortos de repetição, partos prematuros, restrição de crescimento fetal e dificuldades no trabalho de parto.

PRINCIPAIS SINTOMAS

As malformações uterinas são, na maioria das vezes, assintomáticas, sendo descobertas durante o acompanhamento anual ginecológico, quando a mulher está com dificuldades para engravidar ou através da investigação de um aborto. Em alguns casos, podem ocorrer sintomas:

  • dor pélvica devido ao impedimento da saída da menstruação da mulher;
  • cólicas menstruais;
  • abortamento;
  • parto prematuro;
  • anomalias urinárias.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

Os exames para diagnóstico são: ultrassonografia transvaginal, ressonância nuclear magnética pélvica, histerossalpingografia e histeroscopia diagnóstica.

O tratamento varia de acordo com o tipo de malformação, por isso, é extrema importância que o caso seja avaliado por um especialista. A histeroscopia cirúrgica é indicada para retirada de septo uterino. Mulheres com dificuldade para engravidar, que possuem malformações uterinas sem a possibilidade de correção, podem realizar um tratamento de reprodução assistida com o Útero de Substituição.

Doença Inflamatória Pélvica

A Doença Inflamatória Pélvica (DIP) é uma infecção dos órgãos reprodutores (colo do útero, útero, tubas uterinas e ovários), geralmente causada por bactérias (como a clamídia e a gonorreia) transmitidas durante a relação sexual desprotegida.

A transmissão da DIP pode também acontecer devido a complicações em procedimentos ginecológicos como, por exemplo, curetagem ou colocação de DIU.

A doença costuma acometer o útero e as tubas uterinas. Porém, em casos mais graves, a DIP pode atingir os ovários, levar à infertilidade feminina e aumentar as chances de gestação ectópica.

PRINCIPAIS SINTOMAS

O mais comum são as dores na parte inferior do abdômen.
Porém, muitos outros podem ser percebidos: corrimento, odor vaginal, sangramento fora do período menstrual, dor nas costas, odor durante a relação sexual, febre, fadiga, náuseas e vômitos.

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

A dor na região pélvica durante o exame físico pode ser um dos indícios da doença. O exame ginecológico demonstra secreção vaginal com odor, além do toque vaginal ser doloroso. O ginecologista pode solicitar uma ultrassonografia transvaginal para auxílio na investigação, e uma amostra do colo do útero também pode ser coletada e enviada para análise laboratorial.

O tratamento da DIP é feito com antibióticos. Quanto antes for detectada e tratada, menores são as chances de infertilidade por obstrução das tubas uterinas. Nestes casos, recomenda-se que as mulheres com desejo reprodutivo realizem a Fertilização In Vitro (FIV) .